O HEMOGRAMA É UM ALIADO NO SEGUIMENTO DA SARCOIDOSE
Palavras-chave:
Sarcoidose, Atividade e progressão, Linfócitos, Plaquetas, PCR e VHSResumo
Introdução: A Sarcoidose permanece uma doença desafiadora no que tange seu diagnóstico, tratamento e seguimento. Exames de ampla disponibilidade e fácil interpretação são necessários para o melhor monitoramento do curso da doença. Objetivo: Correlacionar parâmetros clínicos, hematiméticos, bioquímicos e da tomografia computadorizada (TC) do tórax com atividade e progressão da Sarcoidose nos pacientes atendidos na Policlínica Universitária Piquet Carneiro (PPC). Métodos: Avaliação retrospectiva de uma coorte prospectiva de pacientes da PPC. Os parâmetros avaliados foram dispneia (escala de mMRC), fadiga, hemograma (contagens de linfócitos, monócitos e plaquetas), velocidade de hemossedimentação (VHS), proteína C reativa (PCR), cálcio sérico e vidro fosco na TC de tórax. Os desfechos foram: atividade/remissão e estabilidade/progressão de doença. Atividade foi definida ao final da consulta após avaliação pela equipe clínica e progressão quando houvesse 2 entre 3 dos seguintes critérios: necessidade de oxigênio suplementar, queda relativa de 10% da capacidade vital forçada (CVF) e fibrose pulmonar nova. Todos os pacientes tinham diagnóstico histopatológico. Resultados: Foram incluídos um total de 25 pacientes, sendo 7 (28%) homens e 18 (72%) mulheres e uma idade média de 57 anos. Atividade de doença foi identificada em 14 (56%), enquanto a progressão em 5 (20%). Dispneia e fadiga tiveram correlação estatística de 0.136 com atividade, porém sem significância ao nível de p (p = 0.516) e sem associação significativa com progressão. Pacientes em atividade apresentaram contagens médias de linfócitos de 1.849 céls/µL contra 1.343 céls/µL naqueles em remissão. Houve correlação positiva entre contagens maiores de linfócitos e atividade (p=0,042) e correlação moderada negativa com remissão (r = -0,41; p = 0,04). O melhor valor de corte discriminatório foi 1.600 céls/µL (sensibilidade 64%; especificidade 73%). Em modelo multivariado, observou-se efeito independente dos linfócitos (OR = 2,63; IC95% 1,02–6,79; p=0,046), com a mesma tendência após ajuste por idade e sexo (OR=2,74; IC95% 0,93–8,05; p=0,067); AUC para linfócitos = 0,747 (IC95% 0,522 – 0,924), sem efeito de interação com idade ou sexo. Monócitos e plaquetas não revelaram correlação estatisticamente significativa com atividade (p > 0,4 e p > 0,59, respectivamente). A contagem de plaquetas foi menor no grupo com progressão (p = 0,0065), de modo que valores abaixo de 200.000/µL associaram-se significativamente ao desfecho (p=0,020). Na regressão logística univariável, apenas plaquetas mostraram significância para cada redução de 10.000/µL [OR = 0,55 (IC95% 0,33–0,92; p = 0,022)], com excelente capacidade discriminativa (AUC = 0,91). Linfócitos e monócitos não se correlacionaram com progressão de doença (p = 0,34 e p = 1,00, respectivamente). As dosagens de PCR, VHS e cálcio sérico não se correlacionaram com atividade de doença (p > 0,05), porém VHS apresentou associação positiva inversa com progressão [média de 15,0 mm/h naqueles com progressão e 26.8mm/h no grupo sem progressão (p = 0,040)]. Vidro fosco foi identificado em 13 (52%) pacientes, porém sua associação com atividade foi fraca e não significativa (p = 0,58), ao passo que a associação com progressão foi limítrofe (p = 0,057). Houve correlação moderada entre vidro fosco e linfócitos (r = 0,39; p = 0,056) com corte de ≥1.593/µL (sensibilidade 77% e especificidade 75%). Conclusão: Achados do hemograma podem ser úteis no monitoramento de atividade, remissão e progressão, de modo que linfócitos >1.600/µL se correlacionam com a atividade de doença e a plaquetas <200.000/µL sua progressão. Linfocitose também se correlacionou com a presença vidro fosco na TC de tórax, porém a correlação entre o achado tomográfico com atividade não foi bem estabelecida. Estudos com amostras maiores são necessários para validar os resultados encontrados.


