IMPACTOS RESPIRATÓRIOS E NA QUALIDADE DE VIDA APÓS CIRURGIA ORTOGNÁTICA EM PACIENTES CLASSE III
ANÁLISE BASEADA EM POLISSONOGRAFIA TIPO IV E ÍNDICES CLÍNICOS COMBINADOS
Palavras-chave:
Apneia Obstrutiva do Sono, Qualidade de Vida, Cirurgia OrtognáticaResumo
Introdução: A qualidade e duração do sono desempenham um papel crítico no bem-estar biopsicossocial. Alterações no estilo de vida com consequente implicação na redução da produtividade, aumento das taxas de mortalidade e perda econômica, aumentaram substancialmente os estudos nos últimos anos. A Apneia Obstrutiva do Sono é uma alteração respiratória caracterizada por episódios repetidos de obstrução completa (apneia) ou parcial (hipopneia) da via aérea superior, resultando em fragmentação do sono e dessaturação de oxigênio. Esta alteração é decorrente de fatores anatômicos como má posição maxilo mandibular, anatomia deficiente da via aérea superior, capacidade de resposta reduzida dos tecidos moles, sobrepeso, macroglossia, distúrbios endócrinos, hábitos pessoais (álcool, sedativos e tabagismo), hereditariedade, menopausa, sexo masculino e aumento da idade. O tratamento pode ser não cirúrgico, envolvendo o uso de CPAP, aparelhos intraorais, exercícios orofaríngeos e mudanças comportamentais; ou cirúrgico, sendo a cirurgia ortognática uma das abordagens mais comuns. A cirurgia ortognática promove correções funcionais e estéticas, mas pode influenciar parâmetros respiratórios durante o sono, em decorrência do deslocamento posterior das estruturas das vias aéreas ocasionado pelo recuo mandibular em pacientes com deformidade esquelética Classe III. Objetivo: Avaliar os impactos respiratórios e na qualidade de vida decorrentes da cirurgia ortognática em pacientes Classe III. Métodos: Foram coletados dados de polissonografia tipo IV (Oxistar™, Biologix Sistemas Ltda., Brasil) no período pré-operatório e pós-operatório (≥ 6 meses). Os desfechos avaliados incluíram: carga hipóxica (índice de dessaturação cumulativa) e índice de dessaturação de oxigênio (IDO). A qualidade de vida foi avaliada por meio dos questionários Orthognathic Quality of Life Questionnaire (OQLQ) e Oral Health Impact Profile – 14 (OHIP-14). Resultados: Foram incluídos sete participantes, cinco do sexo feminino e dois do sexo masculino, com deformidade esquelética Classe III e idade média de 18,7 ± 0,63 anos. O índice de massa corporal médio foi de 26,50 ± 7,26 kg/m². Observou-se aumento significativo na carga hipóxica, de modo que a mediana aumentou de 10,3 em T0 para 21,5 em T1 e o Teste de Wilcoxon indicou uma diferença significativa (W = 1; p < 0,05). A mediana da diferença foi de +5,2, o que sugere um aumento consistente em mais da metade dos pacientes. Entretanto, houve um caso com leve redução (–0,3), evidenciando variabilidade individual. A média de IDO obtida por meio da polissonografia tipo IV foi de 1,78 e 2,30 em T0 e T1 respectivamente. A análise revelou uma melhora acentuada na qualidade de vida após o tratamento: o OQLQ reduziu de 56,3 em T0 para 19,7 em T1 (p = 0,043). Em contraste, as pontuações do OHIP-14 apresentaram uma redução modesta de 30,7 para 25,7 (p = 0,30). Conclusão: Os achados deste estudo indicam que a cirurgia ortognática em pacientes com deformidade esquelética Classe III pode acarretar impactos significativos na função respiratória durante o sono, evidenciados pelo aumento da carga hipóxica e do índice de dessaturação de oxigênio no pós-operatório. Tais alterações sugerem uma possível redução na eficiência ventilatória e comprometimento das vias aéreas superiores, com potenciais repercussões sistêmicas, especialmente em indivíduos jovens. Apesar dessas alterações fisiológicas, observou-se uma melhora substancial na qualidade de vida autorreferida, especialmente nos aspectos funcionais e psicossociais. Esses resultados ressaltam a importância do monitoramento respiratório no acompanhamento pós-cirúrgico e sugerem que a avaliação da carga hipóxica pode ser uma ferramenta promissora. Estudos com amostras maiores e acompanhamento a longo prazo são recomendados para aprofundar a compreensão dos efeitos respiratórios da cirurgia ortognática e orientar estratégias de manejo individualizado.


