USO DE CIGARRO ELETRÔNICO E REDUÇÃO DA PERCEPÇÃO DE RISCOS EM PROFISSIONAL DA SAÚDE
RELATO DE CASO
Keywords:
Tabagismo, Tabagismo Eletrônico, Tratamento de Tabagismo, Cigarros EletrônicosAbstract
Introdução: O tabagismo é a principal causa de morte evitável no mundo, levando à perda da qualidade de vida e comprometendo a longevidade. No Brasil, apesar do sucesso das políticas de controle do tabaco, observam-se novos desafios impostos pela indústria da nicotina, como a popularização dos dispositivos eletrônicos para fumar, como os cigarros eletrônicos. Mesmo proibidos no país — por determinação da Anvisa —, dados do Levantamento Nacional de Álcool e Drogas revelam que 3,7% da população utiliza esses dispositivos regularmente e que mais de 60% dos usuários nunca haviam fumado produtos derivados do tabaco. Este relato de caso é um alerta para profissionais de saúde e para a sociedade. Relato do caso: Paciente do sexo feminino, 34 anos, branca, médica e natural do RJ. Começou a fumar cigarros eletrônicos aos 32 anos, influenciada por amigos. Possui diagnóstico prévio de transtorno bipolar e de ansiedade, estando em tratamento medicamentoso sob acompanhamento psiquiátrico. Há um ano, buscou o ambulatório de cessação de tabagismo da UERJ com a intenção de parar de fumar. Na ocasião, utilizava um dispositivo com 5% de nicotina em 12 ml, totalizando 600 mg distribuídos em 5.000 tragadas, dose equivalente a 30 maços de cigarro. Dois meses depois, já fazia uso simultâneo de três dispositivos; um deles continha 800 mg de nicotina em 15.000 tragadas, correspondentes a 40 maços, consumidas em duas semanas. Nessa fase, chegava a dar cerca de 1.000 tragadas por dia. Após três meses de acompanhamento, aderiu à terapia de reposição de nicotina com adesivos e gomas, associada à bupropiona, e manteve a abstinência pelo mesmo período, mas apresentou recaída. A partir de então, passou a combinar cigarros eletrônicos e cigarros combustíveis, elevando o risco de doenças cerebrovasculares e pulmonares e dificultando a cessação. Permanece em acompanhamento, mantém forte motivação para deixar de fumar, mas ainda enfrenta sintomas intensos de abstinência, além de negação para realizar exames complementares a fim de identificar precocemente doenças relacionadas ao tabagismo. Discussão: Sem diretrizes específicas, o tratamento do tabagismo eletrônico desafia os serviços de saúde, pois cigarros eletrônicos contêm nicotina modificada, mais adictiva que a convencional, além de sabores doces e mentolados que amplificam a dependência. No estudo realizado na Universidade Estadual Paulista (Unesp), investigando o uso de produtos nicotínicos em alunos do primeiro ano da faculdade, embora houvesse majoritariamente a percepção que os cigarros eletrônicos são prejudiciais, quase 30% relataram usar cigarros eletrônicos em 10 ou mais dias por mês, principalmente em eventos sociais, assim como 30% dos usuários relatando dificuldade em evitar fumar. A variedade de formatos e sabores dos dispositivos, somada à divulgação em meios digitais, reduz a percepção de risco, levando os jovens a fumar mais e desenvolver precocemente doenças graves, comprometendo sua qualidade de vida e expectativa de longevidade.


