ABANDONO, CURA OU ÓBITO?
UMA ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA DOS DESFECHOS DOS CASOS DE TUBERCULOSE PULMONAR NO BRASIL NOS ÚLTIMOS 10 ANOS
Keywords:
Tuberculose, Epidemiologia, Saúde públicaAbstract
Introdução: A tuberculose (TB) é uma das principais causas de morbimortalidade no mundo e constitui importante desafio para a saúde pública no Brasil. O país figura entre aqueles com maior carga da doença, registrando, anualmente, dezenas de milhares de novos casos, sobretudo na forma pulmonar — a mais transmissível. O sucesso do controle da TB depende fortemente da adesão ao tratamento, que, no país, apresenta variações regionais marcantes, refletindo desigualdades socioeconômicas, estruturais e de acesso aos serviços de saúde. Paralelamente, o abandono do tratamento e a ocorrência de óbitos mantêm-se como entraves significativos para a redução da incidência e da mortalidade. Nesse contexto, é imprescindível compreender a distribuição e a evolução dos desfechos clínicos ao longo do tempo, considerando aspectos regionais, apontando a necessidade de estratégias centradas no paciente e focadas em grupos vulneráveis. Objetivos: Este trabalho busca analisar os desfechos dos casos de tuberculose pulmonar no Brasil nos últimos 10 anos, com base nos dados do DATASUS, comparando a proporção de casos que evoluíram para cura, abandono do tratamento ou óbito. Métodos: Foi realizado um estudo epidemiológico descritivo, a partir de dados disponíveis do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Foram incluídos todos os casos notificados de tuberculose pulmonar no brasil nos últimos dez anos (2015-2025). As informações foram obtidas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Foram consideradas as categorias cura, abandono e óbito. A análise descritiva contemplou o cálculo das frequências absolutas e relativas de cada desfecho em relação ao total de casos notificados por ano, bem como a avaliação das variações percentuais no período estudado. Resultados: Entre os anos de 2015 e 2024, foram registrados 800.872 casos de TB pulmonar no Brasil. 2023 apresentou o maior número de notificações (93.571 casos), enquanto 2024 registrou o menor (58.068 casos). A análise dos desfechos clínicos revela que a maioria dos pacientes evoluiu para cura, totalizando 583.658 casos (72,9%). A taxa de cura variou entre as regiões: Nordeste (73,34%), Sul (68%), Sudeste (73,5%), Norte (74,5%) e Centro-Oeste (70%). No entanto, o abandono do tratamento representa 131.699 casos (16,4%), tendo maior destaque no ano de 2019, com 12.836 casos (14,85%). Na região Norte, a taxa de abandono mostra uma tendência crescente, especialmente a partir de 2021. Na região Sudeste, o ano de 2024 foi crítico, registrando a maior taxa de abandono da série histórica, com cerca de um em cada cinco pacientes descontinuando o tratamento. Com relação às mortes atribuídas diretamente à tuberculose, totalizaram 34.227 casos (4,3%). No Nordeste, a taxa aumentou gradualmente ao longo dos anos. Em 2015, a taxa era de 4,81% (863 óbitos), em 2024, chegou a 6,54% (1.264 óbitos). Por outro lado, nas regiões Sul e Centro-Oeste, observou-se uma elevação nas taxas até o ano de 2022, seguida por uma redução nos anos de 2023 e 2024. Conclusão: A análise evidencia avanços importantes no controle da doença, mas também revela desafios persistentes. A alta taxa média de cura (72,9%) aproxima-se da meta de 85% preconizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), porém ainda está longe do ideal, indicando a necessidade de intensificação das ações de diagnóstico precoce, adesão e acompanhamento dos pacientes. O abandono do tratamento, responsável por 16,4% dos casos, representa um dos principais obstáculos para o controle da tuberculose, especialmente nas regiões Norte e Sudeste, que registraram aumentos significativos nos últimos anos. Portanto, apesar dos avanços observados, os dados indicam que o Brasil ainda enfrenta obstáculos significativos para alcançar as metas globais de eliminação da tuberculose, sendo imprescindível a adoção de medidas integradas e regionalmente direcionadas para reduzir desigualdades e melhorar os desfechos clínicos nos próximos anos.


