TUBERCULOSE EM POPULAÇÕES VULNERÁVEIS
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO EM PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO ENTRE 2020 E 2025
Palavras-chave:
tuberculose, população em situação de rua, Rio de Janeiro, epidemiologiaResumo
Introdução: A tuberculose (TB) representa um grave desafio de saúde pública, com impacto particularmente acentuado em populações vulneráveis. No Brasil, a doença demonstra uma incidência desproporcional em grupos marginalizados, como as pessoas em situação de rua. Esse segmento da população enfrenta uma complexa rede de barreiras sociais e de acesso à saúde, que os torna particularmente suscetíveis à infecção e ao agravamento da TB, e fatores como a coinfecção por HIV, uso de substâncias psicoativas e a ausência de tratamento supervisionado estão fortemente associados ao abandono do tratamento e ao óbito. Objetivo: Analisar o perfil epidemiológico da tuberculose em pessoas em situação de rua no estado do Rio de Janeiro, no período de 2020 a 2025, visando identificar os principais grupos afetados dentro dessa população, os fatores de risco associados e os desfechos clínicos relacionados ao tratamento. Metodologia: Trata-se de um estudo epidemiológico baseado na análise de dados secundários referentes a casos confirmados de tuberculose em pessoas em situação de rua no estado do Rio de Janeiro, notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Os dados abrangeram o período de 2020 a 2025. Foram avaliadas variáveis sociodemográficas (sexo, raça/cor), presença de comorbidades (doenças mentais, diabetes mellitus, infecção pelo HIV, tabagismo, uso de álcool e de drogas ilícitas) e os desfechos do tratamento (cura, abandono e óbito). Resultados: Entre 2020 e 2025, foram notificados 3.549 casos confirmados de tuberculose em pessoas em situação de rua no estado do Rio de Janeiro, evidenciando uma carga significativa da doença nesse grupo social. Observou-se predomínio do sexo masculino, com 2.779 casos (78,3%), enquanto as mulheres representaram 770 casos (21,7%). Em relação à raça/cor, dos casos totais, houve 1.348 (38,0%) casos nesse período de pessoas em situação de rua autodeclaradas pretas. No que diz respeito aos desfechos do tratamento, 1.538 pessoas (43,3%) abandonaram o tratamento, apenas 835 casos (23,5%) evoluíram para cura e foram registrados 204 óbitos por tuberculose (5,7%) no período analisado. Quanto aos fatores de risco associados, destaca-se o uso de drogas ilícitas em 2.460 casos (69,3%), o tabagismo em 2.037 (57,4%) e o alcoolismo em 1.531 (43,2%). Além disso, 690 pessoas (19,5%) apresentavam coinfecção por HIV, 386 (10,9%) tinham diagnóstico de transtornos mentais e 111 (3,1%) eram diabéticas. Conclusão: A tuberculose em pessoas em situação de rua no RJ (2020–2025) revela um perfil marcado por múltiplas vulnerabilidades: apesar de atingir mais homens, a maioria dos casos atinge pessoas negras, usuários de substâncias e coinfectados por HIV. A taxa de abandono (43,3%) e a baixa proporção de cura (23,5%) evidenciam barreiras no acesso e continuidade do cuidado. Esses dados reforçam a urgência de políticas públicas específicas, intersetoriais e contínuas, voltadas à equidade no enfrentamento da tuberculose.


